Direito de cidadania de não votar.

A abstenção (do latim abstentione, s. f., acção ou efeito de abster; renúncia, privação, isenção; abstinência, continência”) é apresentada como o eterno inimigo, o papão e o fantasma. E, porém, falsa questão.
É certo que constitui um obstáculo. Mas é-o à massificação do politicamente correcto, do polidamente insensato, dos brandos costumes e da politiquice para quem vive – e sobrevive, alguns a vida inteira – da política (com p pequeno). Daquela que grassa a rodos e em todos os quadrantes: sem valores, interesseira, cinzenta, de lugares comuns, acéfala, indolor, incolor, subterrânea e dormente mas que não dorme. Não haja dúvidas que, no actual estado de ostensiva mediocridade e superficialidade, o voto – o tal dever cívico – é, também, uma preciosa ajuda, colaboração e incentivo à sua persistência e perpetuação.
A abstenção, pelo contrário, é um fôlego, uma esperança, uma resistência, um não ceder a esse mesmo estado de coisas. Tão legítimo como o voto – porque é também manifestação de vontade e de vontade política -, é democraticamente um empenho, um alerta. De que o rei vai nú e de que o prazo de validade há muito esgotou. E que urge acordar do profundíssimo estado de coma a que politicamente se chegou e que constitui, seguramente, um dos principais motores do nosso atraso e evidente terceiro-mundismo.
Até lá, só um caminho: não transigir, resistir, não ceder. Em suma: exercer o direito de cidadania de não votar.

PS – Obviamente que nos actuais candidatos não se divisa qualquer fundamento sério para em qualquer deles empenhar confiança. Tanto mais que, e utilizando expressão de Vasco Pulido Valente a propósito do candidato Cavaco, não se assistiu a qualquer campanha eleitoral. Antes e tão só, a puras campanhas de publicidade.

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