O sinal.
"Fleumático. Pára, travando bruscamente. Abre-se-lhe, até, o capôt do seu brutal STI: preto fumado, pequenas inscrições a vermelho.
Salta, num ápice, num único salto e sem olhar. Em dois passos chega, suave levemente, ao pequeno hall. De madeira e prata. Impecável, sem mácula alguma. Para que Ele não estranhasse, pois. Nunca, estranhasse.
Deita a mão esquerda – a sua direita, claro! – e de uma só vez, como se se tratasse de um só e único movimento, escancara – sim, escancara - a porta de entrada. Tão repentino que, ainda antes de tirar os óculos de sol, sente a multidão abrir alas, a passadeira vermelha a libertar-se e a consumarem-se burburinhos, que musicalizam silêncios.
Mecanicamente, no seu perfeito fato e luzídios sapatos, dá dois passos. E saí. De imediato, da passadeira. Era suposto percorrê-la, mas não! Não o faz!
Brincando com os óculos de sol na sua mão direita, altiva, tristemente sorridente, olhos no horizonte do vazio que o ilumina, abre entre os presentes alas. E dá mais três passos decididos.
Olvida, por completo, as palavras que havia de cerimoniosamente proferir. Não é mais relevante. Só lhe interessa instintivamente um só silêncio. Uma só melodia, uma só textura e um só compasso que prescruta e freneticamente omite.
Com ligeiro aceno, esboça um sorriso em direcção ao violino que, entretanto, se calou. E de olhar fixo, pede-lhe, o mais baixinho que lhe é possível, uma melodia. A melodia!
Que, só com o início do balbuciar dos lábios dele, começou a soar. Etereamente. E intensamente. Envolvendo toda a sala. E descomprimindo todos. Até a passadeira vermelha.
Menos Ele! Que se manteve inerte, seco de olhar vazio e fixo em nenhures ao seu som e à sua musicalidade.
Terminada – e sem mais palavras mas sempre distante -, volta ao STI, com passos largos e com um ligeiro aceno.
Liga a ignição e, fleumático, acelera brutalmente. Não interessa o rumo, mas acelera. Porque a melodia tocou. E alguém a tocou. Só para Ele.
E esse era o sinal!"
Comentários
Lovely!!
Kiss!