só a testemunha pode realmente dançar.



"Sim! Efectivamente, só uma consciência que testemunha pode realmente cantar, dançar e saborear a vida. Pode parecer um paradoxo - e é! -, mas tudo o que é verdadeiro é sempre paradoxal. Lembre-se: se a verdade não for paradoxal, então nem sequer é verdade, será outra coisa qualquer.
O paradoxo é uma qualidade fundamental e intrínseca da verdade. Deixe-o afundar no seu coração para sempre; a verdade enquanto tal é paradoxal.
 
Embora todos os paradoxos não sejam verdade, todas as verdades são paradoxos. A verdade tem de ser um paradoxo, porque tem de ser bipolar, com o polo negativo e o positivo, sendo no entanto uma transcendência. Tem de ser vida e morte, e mais. Com "mais" quero dizer a transcendência de ambos - ambos e ambos não. A verdade é o paradoxo supremo.
 
Quando habita a mente, como pode cantar? A mente cria infelicidade; da infelicidade não pode resultar canção. Quando habita a mente, como pode dançar. Sim, pode representar determinados gestos vazios, mas não é uma dança autêntica.
Somente Meera, ou Krishna, ou Chaitanya sabem a verdadeira dança; estão são as pessoas que sabem realmente dançar. Outras apenas conhecem a técnica de dançar, mas nada transborda; as suas energias estão estagnadas. As pessoas que vivem na mente vivem no ego; e o ego não sabe dançar.
Pode executar um espectáculo, mas não uma dança.
A verdadeira dança só tem lugar quando você se tiver tornado uma testemunha. então, tão abençoado que a própria bênção transborda de si; isso é dança. A própria bênção começa a cantar, emergindo uma canção de uma forma espontânea. E só quando for uma testemunha, poderá saborear a vida. (...)
 
Um espectador é diferente: é aborrecido, está numa espécie de sono. Não participa na vida. Tem medo, é um cobarde. Fica à margem da estrada e simplesmente vai vendo os outros a viver. É isso que faz durante toda a sua vida: outra pessoa actua num filme e voçê fica a ver. És um espectador! As pessoas ficam horas a fio colodas ao cadeirão, em frente dos seus televisores - espectadores. Há outra pessoa a cantar e voçê escuta.  Outra pessoa esta a dançar e você é um mero espectador. Mais alguém está a amar e você fica a ver, não é um participante. Há profissional a fazerem o que devia ser você a fazer sozinho.
 
Uma testemunha não é um espectador. (...) Uma testemunha é alguém que participa, embora permaneça alerta. Uma testemunha está no estado de wei-wu-wei. Este é um termo de Lao Tzu; significa acção através da inacção. Uma testemunha não é alguém que fugiu da vida. Vive na vida, vive muito mais integralmente, muito mais apaixonadamente, no entanto permanece um observador profundo, recordo constantemente "Eu sou uma consciência".
 
Experimente. Enquanto caminha na estrada, lembre-se de que é uma consciência. A caminhada continua e vem juntar-se uma nova coisa - junta-se uma nova riqueza, uma nova beleza. Qualquer coisa interior é acrescentada ao acto exterior. Torna-se uma chama de consciência e, então, a caminhada tem para si uma alegria totalmente diferente; está na terra, porém, os seus pés nem sequer tocam a terra.
 
Foi o que Buda disse: Atravessa um rio mas não deixes que a água toque os teus pés.
É esse o significado do símbolo oriental da flôr de lótus. Já deve ter visto estátuas e quadros de Buda sentado um lótus. O lótus não foge para as grutas dos Himalaias ; ele vive na água e, no entanto, permanece distante, afastado. Estar na praça do mercado sem permitir que a praça entre no seu ser, viver no mundo, porém, não do mundo: é isso que significa "consciência que testemunha" (...)
 
Não sou contra a acção, mas a sua acção deve ser iluminada pela consciência. Aqueles que são contra a acção acabam por ser repressivos; e todos os tipos de repressão tornam-no patológico, não integral, não saudável.
Os monges que vivem nos mosteiros (....) que fugiram da vida não são verdadeiros sannyasins. Limitaram-se a reprimir os seus desejos e afastaram-se do mundo da acção. Onde poderá ser uma testemunha se se afastar do mundo da acção?
O mundo da acção é a melhor oportunidade para estar consciente.  Apresenta-lhe um desafio e permanece um desafio constante. Ou pode adormecer e tornar-se um agente - é então um homem mundano, um sonhador, uma vitima das ilusões; ou pode tornar-se uma testemunha, continuando, no entanto, a viver no mundo. Então, a sua acção tem para ele uma diferente qualidade; é verdadeiramente acção. Aqueles que não estão conscientes, as suas acções não são verdadeiramente acções, são reacções. Eles apenas reagem.
 
Alguém o insulta e voçê reage. Insulta o Buda - ele não reage. Ele age. A reacção está dependente do outro; ele prime um botão e você é apenas um vítima, um escravo; funciona como uma máquina.
 
A verdadeira pessoa, que sabe o que é a consciência, nunca reage; age a partir da sua própria consciência. A Acção não provem do acto do outro; ninguém pode premir o seu botão. Se sente espontaneamente que é correcto fazer isto, ele faz; se sente que nada é necessário, fica quieto. Ele não é repressivo; está sempre aberto e expressivo. A sua expressão é multidimensional; na canção, na poesia, na dança, no amor, na oração, na compaixão, ele flui.
 
Se não se tornar consciente, então só existem duas possibilidades: ou será repressivo ou será indulgente. em ambos os casos, permanece em cativeiro" - Osho, in "Meditação - A Primeira e a Última Liberdade.
 

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