Esta anónima idade.

"Vivemos num tempo em que não existe só quem dá tudo – até a honra – pelos seus segundinhos de glória; mas em que há também quem prefira que o não conheçam nem reconheçam, seja por medo de que reparem no que tomam pelas suas fragilidades seja por total inconsciência dos direitos dos outros a saber quem são. Normalmente pelos dois motivos.
Vem isto a propósito do que sucedeu ontem no meu escritório. Dei instruções à minha funcionária para ligar para uma determinada secção de processos dum tribunal de fora de Braga, para esclarecer algo de incompreensível a respeito de umas notificações. O dito tribunal tem vários juízes; por isso, durante o telefonema interrompi a funcionária discretamente e disse-lhe que também perguntasse o nome do senhor juiz ou senhora juíza a quem estava distribuído o processo. Resposta prontíssima seguida de imediato desligar: “Ai não, isso é que não digo de certeza!”
Não me digam que é o oficial de justiça que sofre de limitações, porque isto não é infuso, aprende-se com alguém. Acontece, meus amigos, é que já não bastavam as assinaturas ilegíveis em sentenças, despachos e promoções; agora entrámos definitivamente na era dos magistrados anónimos. Quando cumprimento um juiz pela primeira vez, digo sempre o meu nome profissional: é norma de boa educação e prática de prudência, não vão confundir-me com outros – e desde logo com as pessoas presentes. Nunca ouvi um magistrado a responder-me identificando-se. Este não é pois mal dos tempos. Mas é obra, convenhamos." - Alberto Jorge Silva, Advogado.

Comentários

Marcelino Teles disse…
O que deveria haver, e ser obrigatório, para todos os agentes da justiça, aquando das suas funções, era cartão de identificação colocado no peito, ao pescoço ou na gravata, um cartão que identificasse todos sem excepção, e não apenas a obrigatoriedade aos oficiais de justiça. Agora por telefone já nem me atrevo comentar...

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