O pacto da irmandade.
"No "post" anterior, deu-se conta e valorizou-se o editorial do Director do Diário de Notícias da Madeira da passada sexta-feira. Houve quem discordasse do facto de todos serem metidos no mesmo saco a propósito do episódio mais recente de insultos na Assembleia Legislativa da Madeira. Ora, quer se queira quer não, se quisermos ser realistas e encarar a infeliz realidade, há episódios que demonstram que, nesta ilha nossa, está tudo "à medida", seja no poder ou fora do poder, seja no partido que governa ou noutro. O que existe são diferenças de grau, essencialmente.
Como dizia, seja no poder, nos partidos, nas instituições ou nas forças vivas da sociedade, com peso na construção do bem comum e da justiça social, tudo se nivela e são poucos os que fazem a diferença. Há um engajamento tal uns nos outros que acaba por lançar no mesmo remoinho toda a gente. O poder de atracção (sucção) é enorme. Há uma cultura, uma mentalidade, uma espiral da qual não se sai e todos engole, mais tarde ou mais cedo, com mais vontade ou menos vontade: A cultura do interesse próprio, seja por dinheiro, protagonismo ou posicionamento na hierarquia social.
A par desta cultura e mentalidade, existe uma outra, que permite a primeira subsistir e expandir-se tão gloriosamente: a cultura do medo, do acanhamento, da indiferença, do conformismo e do comodismo pactuante ou conivente, que muitas vezes tem na raiz esse mesmo interesse próprio traduzido pelo oportunismo. Na verdade, estar a bem com deus e com o diabo é um posicionamento muito madeirense. Facas de dois cortes não faltam.
Em síntese, metade da Madeira vive a cultura do interesse (normalmente traduzido em dinheiro) e a outra metade vive a cultura do medo. Esta, por sua vez, tantas vezes se mantém queda e muda porque ambiciona "ascender" à outra metade. Nem que seja obter umas migalhas... E estas duas metades, grosso modo, vivem engajadas. É difícil quebrar esta irmandade, este pacto nas próximas décadas. Tem a força de um pacto com o diabo. As bolsas que fogem a este pacto são engolidas na voragem. Por acção de uma metade ou por inacção da outra metade. Porque essa coisa da solidariedade activa é bem muito escasso por estas paragens. É tão culpado quem faz como quem deixa fazer.
É preciso outra visão, outro pensar, outro fazer, outro discurso e, acima de tudo, outra ética política na construção do bem comum. Se os grandes feitos não são possíveis neste estado de coisas, numa sociedade tão (auto)controlada, há que plantar sementes para que algumas delas germinem no futuro. Esqueçam-se as grandes acções de transformação ou mudança." Foto daqui.
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