Horizontes, mares e marés.

Soul Cages - Piotr Kowalik

Há dias, repetidas vezes e com os olhos vidrados no vazio de outros horizontes, alguém dizia-me: "A minha alma está parva!"

Devo dizer que também parvo fiquei. Já não sei já se a minha alma terá ficado, mas eu fiquei. Ou, pelo menos, certo eu ficou. Como atordoado permaneço. E é desse outro eu que, aqui em amigo e simpático desafio, não consigo conjunturar.
Seguramente é pela minha incompetência que incapaz sou. De inteligir, quão se deve inteligir, que o que nos resta é, afinal, uma singela falácia. Não fosse viver, afinal, sempre menos que uma singela falácia...

Julgo saber o que são mares.
Já não sei, todavia, o que mares são. Se horizontes pespegados de reluzentos e encandescentes nasceres, se gotejados de melhores findares.
Não sei também quais. E quais olhos os inexpressam e os exibem.
Ignoro, pois, que também mares me são ou sê-lo-ão. Só posso eu falaciamente parecer estar.

Nos sonhos, que não são os meus, o burburinho das marés não são.
Não são marés, porque sem mar mensurável.
Não são ondas, porque nas brumas do que não sei e do que não sei conheçer só tenho irredutíveis certezas. De finíssimo e etéreo pó de prata e de marcas indeléveis de que não as tenho.

Como a maresia é ilusão do mar, o mar do meu inexistente reflexo e as suas surdas marés ilusão dos meus tempestuosos silêncios.
Afinal, esse meu eu, parvo ou não, é mesmo só uma falácia, não é?


Texto cá de casa. A magnífica Foto foi, é, da exclusiva escolha do Conversamos?!..., onde, em simultâneo, o conjunto é publicado. E a quem reconhecidamente se agradece a simpatia.

Comentários

Anónimo disse…
Reflexões da gente pra gente mesmo e a foto ... ah!!!! belíssima!

Beijinhossss

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