A abstenção (do latim abstentione , s. f., acção ou efeito de abster; renúncia, privação, isenção; abstinência, continência”) é apresentada como o eterno inimigo, o papão e o fantasma. E, porém, falsa questão. É certo que constitui um obstáculo. Mas é-o à massificação do politicamente correcto, do polidamente insensato, dos brandos costumes e da politiquice para quem vive – e sobrevive, alguns a vida inteira – da política (com p pequeno). Daquela que grassa a rodos e em todos os quadrantes: sem valores, interesseira, cinzenta, de lugares comuns, acéfala, indolor, incolor, subterrânea e dormente mas que não dorme. Não haja dúvidas que, no actual estado de ostensiva mediocridade e superficialidade, o voto – o tal dever cívico – é, também, uma preciosa ajuda, colaboração e incentivo à sua persistência e perpetuação. A abstenção, pelo contrário, é um fôlego, uma esperança, uma resistência, um não ceder a esse mesmo estado de coisas. Tão legítimo como o voto – porque é também manifestação d...