Um país sob escuta.
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Ora, quando confrontamos o elevado número de escutas telefónicas que se crê sejam feitas (fala-se em 40.000 por ano!), com o carácter subsidiário que estas deveriam ter, o número de processos em que efectivamente são usadas como prova e o número de condenações efectivamente conseguidas, temos que concluir que as escutas não estão a servir o propósito para que foram criadas. Quando juntamos esse dado ao facto de aparecerem nos jornais transcrições completas de escutas feitas no âmbito da investigação criminal, sem que daí resulte qualquer tipo de responsabilidade criminal para os autores da notícias ou os seus informadores dentro do sistema, então devemos começar a preocupar-nos. Não tanto com a lei ou com as escutas em si, que essas são feitas em todo lado e nem já ninguém hoje em Portugal fala ao telemóvel sem ser por código; mas com quem, tendo essa missão, não procura investigar, e, quando investiga fá-lo mal e sem método e seguindo sempre o caminho mais fácil, e com quem, tendo a obrigação de garantir a legalidade, autoriza por baixo, sem questionar o que está em causa, para que serve e o resultado que se espera vir a obter. Muito provavelmente a lei será objecto de revisão mas não é a lei que precisa de urgente reforma. Sérgio Catarino, http://www.ncadvogados.pt/
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